Maduras

Sei que tenho andado afastado deste mundo quase virtual, é verdade, mas fi-lo por uma boa causa. Na prática, o que aconteceu é que resolvi auto promover-me a cobaia humana para participar numa experiência por mim engendrada para melhor tentar entender esta nova tendência de se inventar produtos alimentícios – mormente derivados do leite – destinados a mulheres (com especial ênfase para as mais “maduras”, se é que tal coisa existe, como diria uma amiga minha).

É real, para quem ainda não se apercebeu, depois dos produtos de higiene íntima específico para mulheres, das revistas femininas e até da lingerie e acessórios de maquilhagens sexistas, surgem agora os alimentos.

Ora, eu, como elemento activo da minha curiosidade, tinha de ver em que é que isto consistia na realidade (depois de ter também experimentado todos os outros produtos enunciados anteriormente). Tinha de perceber porque é estes produtos são indicados para as senhoras, e só para elas. E, ainda para mais, especialmente para as “menos novas”, digamos, para sermos simpáticos. (para atestar que isto é mesmo cientifico, mas mesmo da ciência, desvendo que um dos itens deglutidos foi este leite SOJAMIMOSA e o outro foi o iogurte YOPTIMAL Mulher).

Sim, submeti-me à derradeira prova do método científico – a prova (é mesmo “a prova”, desculpem a redundância). Durante dois dias inteiros atrevi-me a engolir uns quantos golos destas selectivas iguarias e posso revelar o seguinte:

À primeira vista o sabor é igual a qualquer um dos outros seus semelhantes para crianças ou pessoas em geral. Depois a consistência e a cor também não diferem por aí além (o leite, tal como o iogurte, é branco, e a textura é líquida ou pastosa, respectivamente, da mesma forma que todos os outros produtos desta classe alimentícia o são). “Mas onde estará a diferença?” contorcia-me eu com as dores da ressaca duma ignorância desesperada…

Só duas semanas depois é que percebi. Não há dúvidas, de facto aquilo são alimentos indicados para mulheres acima dos quarenta anos (convenhamos que esta será a idade da maturação, mas só mesmo por conveniência). E resultam mesmo! De facto, aqueles alimentos ajudarão a “mulher madura” a ter uma vida com mais qualidade, e eu posso comprová-lo. A saber os resultados:

Já não choro só porque o dia está ventoso e até consigo ver um filme romântico e um noticiário da TVI sem verter uma lágrima;

Não sinto uma necessidade mórbida de ver telenovelas, nem sinto qualquer tipo de simpatia pelos apresentadores dos programas da manhã televisiva;

Lembro-me vagamente do que quer dizer “orgasmo” e até já quase que tenho algum desejo de querer saber o que é;

Cortei-me com uma faca, sangrei pouco e não fiquei deprimido com isso;

Já consigo olhar para o espelho…e sorrir;

Consigo falar sem utilizar excessivamente a palavra “dantes” nem os verbos no passado…até já uso o futuro!

Não acredito em tudo o que me tentam vender (e já consigo recordar as reuniões da Tupperware e da Avon sem pôr os olhos a brilhar)


Enfim, de certeza que os efeitos se vão continuar a manifestar mas, por enquanto, estes demonstram que o meu cepticismo não tinha qualquer razão de existir, pois não?


Deathnot